Um Poema de : Soares Feitosa
Um dia, Ela desenhará em chãos longínquos a casa só nossa, que eu farei com estas mãos.
Os tijolos, eu os amassarei com os meus pés.
Às telhas — hei de aprontar o barro mais macio, e as formas serão por mim, uma a uma, completadas;
Ela as alisará longamente —
seus dedos molhados de um profundo silêncio:
só os pássaros.
Fortaleza, manhã de 19.11.1998
Após a leitura deste poema, já há alguns anos, deixei no site do poeta brasileiro este comentário:
A poética na arquitectura diz-se uma realidade espacial que pela sua proporção, harmonia e funcionalidade, potencia uma das mais clarividentes e reveladoras experiências que nós humanos podemos viver.
A poética arquitectónica assentará no despreendimento e na capacidade de abstração, mas também na interpretação do que se procura materializar como espaço, na modelação e controle da luz, no "assentamento" na paisagem e na convergência dos tempos de acção, esta última talvez a condição mais difícil de obter...
No entanto, lê poesia apenas quem a procura...
A terra, a transcendência do Amor, a necessidade de (a)riscar, o sonho, a transformação, são tudo matéria do espaço arquitectónico.
Obrigado por me ter provocado esta leitura esquecida da minha profissão.
Helder Ventura
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