sábado, 14 de janeiro de 2023

O manto diáfano da pureza.

 O Homem justo, impecável e infalível. O unicórnio da existência, o ente equidistante, sereno, justo e eficaz. Eis quem, finalmente, procuramos na política. 

Mas, para que este Ser possa um dia fazer parte de um Governo de Portugal terá ainda que vestir um fato branco, imaculado, de seda natural cuja origem se prove não tenha sido confecionado por bichos da seda sujeitos a uma existência enclausurada num casulo, ou que jovens com idade inferior a desasseis anos não tenham sofrido quezílias enquanto fiavam "horas a fio", com suas mão delicadas os fios da referida seda.

Mas para além de escrutinarmos com infalível questionário de escrutínio infalível a justeza, a seriedade e a retidão do putativo e hipotético candidato ao Governo de Portugal, teríamos ainda que ter em consideração que tal pessoa teria  ainda que obter bons resultados na governação, pelo que, para além do fato imaculado e das características morais e cívicas apontadas, a criatura teria de provar que ao longo da sua carreira teria dotes impecáveis de gestão, de liderança, de visão estratégica, de capacidade reformista, de capacidade inovadora e teria ainda e sobretudo de ser executivo-criativo, para que com sua criatividade empolgasse os seus mais diretos colaboradores e quiçá até os próprios portugueses.

A criatura teria ainda que afirmar nunca ter proferido algum termo ou expressão atentatória da dignidade de uma minoria ou de qualquer grupo étnico, ou até de ter maltratado animais, ou até de nunca ter tido uma noite de farra e de se ter enebriado com qualquer bebida ou substância, executando dança menos própria de um governante, que como se sabe, vestido de seda branca imaculada se topa logo à distância, mesmo no beco mais escuro, mas o que é que a criatura estaria a fazer no beco ?

Para além destas impecáveis características sociais, humanas e profissionais, o promissor governante, a promissora governante, pertencerá como é obvio a uma família de bem, que nunca nunhum dos seus membros tenha negociado com as escolas as câmaras os hospitais ou nunca ter sequer sonhado em participar numa magistratura qualquer, contaminando assim a necessária independência dos poderes. 

E é assim que teremos, como se sabe, acesso ao mais promissor dos futuros, com seres imaculados e de fato bem vestidos, com uma capacidade de comunicação infalível, respeitadora de toda e qualquer das aleatórias agendas mediáticas cujos objetos assentam na crua e nua voracidade antropofágica da relação politico-económica. Neste contexto, teremos que separar o trigo do joio, não confundir Espinho com Cartaxo, este ultimo o único transitado em julgamento.

Estava eu afirmando todas estas infalíveis e certeiríssimas considerações enunciando as condições necessárias mas nunca suficientes para a composição dos governos quando surge a notícia da Jamila Madeira. O que nos leva a considerar que estas considerações e exigências existem há muito nas regiões autónomas pois que das ilhas não surgem quaisquer casos que nos levantem quaisquer dúvidas. A não ser a da Jamila.

domingo, 28 de maio de 2017

Território e permeabilidade.

Preocupações ambientais, desenvolvimento, lê-se nas notícias que referem o lançamento da candidatura de Vitor Amaral à Câmara de  Ovar.
Estas preocupações farão também parte dos programas de outras candidaturas. Já estamos habituados a que em períodos eleitorais de âmbito local surjam estas palavras. Como conciliar desenvolvimento com a preservação do equilíbrio ecológico, da paisagem?
Racionalizando, exercendo o poder. 
O poder de afrontar cidadãos sem escrúpulos e interesses corporativos, e ligações perigosas.
Percebe-se que para garantir o crescimento de uma empresa se violem claramente planos de ordenamento e que se contornem regulamentos? Talvez. O problema é que se gera deste modo uma cultura de permissividade que,  adoptada por muitos cidadãos sem escrúpulos e orientados pela simples soberba e ganância, provoca o assalto a territórios que julgávamos preservados pelas cartas de reserva agrícola, ecológica, florestal, pasmadas no sucessivos PDM s que se vão revendo na quietude dos salões.
Sabendo que muito do desenvolvimento turístico que agora ocorre se baseia na nossa paisagem, na Ria e na mancha de floresta que ainda nos rodeia, que fazer para preservar sítios fundamentais do território que demonstrem a natureza  livre de construções e de uma excessiva e indesejada marca humana? Ou amesmo de uma ocupação de espaços públicos desregrada e abusiva?
O que dizem as diversas candidaturas a uma política fiscalizadora eficiente e que pedagogicamente demonstre ser autoridade?
Essa mesma autoridade que falta nas escolas para resolver problemas grosseiros de indisciplina, pois nós os da geração de Abril que passámos do 8 ao 80, com inabilidade para exercer autoridade, pois trumatizados pelos 48 anos de Tarrafal, lápis azul, fardas verdes.
Gostaria de ouvir a vossa opinião.




segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Last Project - 2005 / 10 - Uma casinha em Válega.

Histórias de arquitecturas anónimas...

 
Para uma menina, agora senhora, de seu nome Carla. Carla e Joel, agora com uma filha, a Natacha. O pai, o sr. Joaquim, tem um talho que é gerido em sintonia com a mãe, Natália, onde se podem comprar produtos de boa qualidade, de Arouca.
Carla tem uma irmã, de notável beleza, que vive em um apartamento. Não é tão ambiciosa quanto Carla. Não sei muito mais da família, que me parece unida.
Mas a história começou assim: certo dia, creio que em 2005, estando eu no meu escritório na Rua Elias Garcia, batem á porta. Era uma jovem que perguntava se eu fazia projectos. Ela trazia uma pasta com um projecto de arquitectura fornecido pela Càmara Municipal de Ovar, projecto-tipo para cidadãos que não podem suportar os custos de um projecto. (Por agora vou abster-me de fazer comentários ao projecto, oriundo dos serviços da própria Câmara de Ovar...)



A jovem, que acabara de comprar um lote para construção de uma moradia unifamiliar isolada num loteamento de iniciativa camarária, situado no Sargaçal, em Válega, lotes estes colocados á venda para jovens casais de rendimentos escassos, perguntou-me se eu lhe poderia fazer umas alterações ao projecto da CMO, pois não gostava das janelas, eram pequenas e dos quartos não se podia aceder ao jardim... Eu respondi que alterações a projectos de outros não fazia mas que poderia fazer um outro projecto... "E os custos?" perguntou ela. Nestas ocasiões lembrava sempre um livrinho do mestre Otávio Lixa Filgueiras  editado pela Escola de Arquitectura da Universidade do Porto onde era professor, intitulado: "Da Função Social do Arquitecto"...
O projecto para a casa da Carla e do Joel fez-se e a obra construiu-se ao longo de longos anos com acompanhamento e pedagogia espacial e construtiva, o que se torna natural num país em que a arquitetura não é coisa de todos os dias, muito menos agora e para casais jovens.
Creio ter conseguido uma obra digna.

Mas, o final infeliz aparece, eis que a última prestação do projecto não foi paga, as fotografias do interior não se tiraram, os telefones não se atendem e o silencio já perdura há mais de um ano. Sei que a casa ainda não possui licença de habitabilidade, embora já esteja habitada desde a sua conclusão.
A cultura de um Portugal menor vem ao de cima. Portugal é país de contrastes. Surgem oliveiras onde menos se espera, e grandes ecrans de painéis solares por entre as vacarias. 



                                histórias de arquitecturas anónimas.


quinta-feira, 5 de maio de 2011

architects in movies

gary grant

"The foutainead"

A certeza do indivíduo e a força do movimento colectivo. "Star sistem" versus big panóplia de sistemas de projectar. A atribuição dos Pritzker. Os arquitectos individuos e o sistema cada vez mais pulverizado da decisão. Os políticos e a falência do nosso sistema decisório. A incapacidade para o diálogo do primeiro-ministro de portugal. A "tróika"; tradição,  modernidade e o labirinto da saudade.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Um novo projecto

Em Ovar.



".../... O programa funcional para esta habitação consta de sala de estar e de jantar, quarto de banho com suite, cozinha, despensa, e sanitários, a implantar no rés-do-chão, e de dois quartos e bilblioteca / sala de leitura, no andar. A área de construção útil não deverá ultrapassar os 200 m².
Os espaços de rés-do-chão deverão ser inclusivos e fortemente relacionados com o exterior , com um só nível e com acessibilidade garantida a todos os espaços estruturantes.
Os espaços do andar deverão ter uma relação com o exterior mais contida pelos factores decorrentes da envolvente imediata, sobre a qual não existem elementos de referência notáveis.../..."
 
Da memória descritiva.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Janela branca, com fundo branco
















 
casa de Luis Pedro e Liliana, ovar, 2007




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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Termas em Chaves - Januário Godinho

Arquitectura moderna portuguesa, finais de 50, séc XX

Um espaço magnífico, um desenho fluido, a luz excelente, a lembrar as arquitecturas construidas nos trópicos. "O moderno tropical" a melhor arquitectura moderna portuguesa.
Também sabemos que a melhor arquitectura portuguesa do barroco está no Brasil.