segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Last Project - 2005 / 10 - Uma casinha em Válega.

Histórias de arquitecturas anónimas...

 
Para uma menina, agora senhora, de seu nome Carla. Carla e Joel, agora com uma filha, a Natacha. O pai, o sr. Joaquim, tem um talho que é gerido em sintonia com a mãe, Natália, onde se podem comprar produtos de boa qualidade, de Arouca.
Carla tem uma irmã, de notável beleza, que vive em um apartamento. Não é tão ambiciosa quanto Carla. Não sei muito mais da família, que me parece unida.
Mas a história começou assim: certo dia, creio que em 2005, estando eu no meu escritório na Rua Elias Garcia, batem á porta. Era uma jovem que perguntava se eu fazia projectos. Ela trazia uma pasta com um projecto de arquitectura fornecido pela Càmara Municipal de Ovar, projecto-tipo para cidadãos que não podem suportar os custos de um projecto. (Por agora vou abster-me de fazer comentários ao projecto, oriundo dos serviços da própria Câmara de Ovar...)



A jovem, que acabara de comprar um lote para construção de uma moradia unifamiliar isolada num loteamento de iniciativa camarária, situado no Sargaçal, em Válega, lotes estes colocados á venda para jovens casais de rendimentos escassos, perguntou-me se eu lhe poderia fazer umas alterações ao projecto da CMO, pois não gostava das janelas, eram pequenas e dos quartos não se podia aceder ao jardim... Eu respondi que alterações a projectos de outros não fazia mas que poderia fazer um outro projecto... "E os custos?" perguntou ela. Nestas ocasiões lembrava sempre um livrinho do mestre Otávio Lixa Filgueiras  editado pela Escola de Arquitectura da Universidade do Porto onde era professor, intitulado: "Da Função Social do Arquitecto"...
O projecto para a casa da Carla e do Joel fez-se e a obra construiu-se ao longo de longos anos com acompanhamento e pedagogia espacial e construtiva, o que se torna natural num país em que a arquitetura não é coisa de todos os dias, muito menos agora e para casais jovens.
Creio ter conseguido uma obra digna.

Mas, o final infeliz aparece, eis que a última prestação do projecto não foi paga, as fotografias do interior não se tiraram, os telefones não se atendem e o silencio já perdura há mais de um ano. Sei que a casa ainda não possui licença de habitabilidade, embora já esteja habitada desde a sua conclusão.
A cultura de um Portugal menor vem ao de cima. Portugal é país de contrastes. Surgem oliveiras onde menos se espera, e grandes ecrans de painéis solares por entre as vacarias. 



                                histórias de arquitecturas anónimas.