O Homem justo, impecável e infalível. O unicórnio da existência, o ente equidistante, sereno, justo e eficaz. Eis quem, finalmente, procuramos na política.
Mas, para que este Ser possa um dia fazer parte de um Governo de Portugal terá ainda que vestir um fato branco, imaculado, de seda natural cuja origem se prove não tenha sido confecionado por bichos da seda sujeitos a uma existência enclausurada num casulo, ou que jovens com idade inferior a desasseis anos não tenham sofrido quezílias enquanto fiavam "horas a fio", com suas mão delicadas os fios da referida seda.
Mas para além de escrutinarmos com infalível questionário de escrutínio infalível a justeza, a seriedade e a retidão do putativo e hipotético candidato ao Governo de Portugal, teríamos ainda que ter em consideração que tal pessoa teria ainda que obter bons resultados na governação, pelo que, para além do fato imaculado e das características morais e cívicas apontadas, a criatura teria de provar que ao longo da sua carreira teria dotes impecáveis de gestão, de liderança, de visão estratégica, de capacidade reformista, de capacidade inovadora e teria ainda e sobretudo de ser executivo-criativo, para que com sua criatividade empolgasse os seus mais diretos colaboradores e quiçá até os próprios portugueses.
A criatura teria ainda que afirmar nunca ter proferido algum termo ou expressão atentatória da dignidade de uma minoria ou de qualquer grupo étnico, ou até de ter maltratado animais, ou até de nunca ter tido uma noite de farra e de se ter enebriado com qualquer bebida ou substância, executando dança menos própria de um governante, que como se sabe, vestido de seda branca imaculada se topa logo à distância, mesmo no beco mais escuro, mas o que é que a criatura estaria a fazer no beco ?
Para além destas impecáveis características sociais, humanas e profissionais, o promissor governante, a promissora governante, pertencerá como é obvio a uma família de bem, que nunca nunhum dos seus membros tenha negociado com as escolas as câmaras os hospitais ou nunca ter sequer sonhado em participar numa magistratura qualquer, contaminando assim a necessária independência dos poderes.
E é assim que teremos, como se sabe, acesso ao mais promissor dos futuros, com seres imaculados e de fato bem vestidos, com uma capacidade de comunicação infalível, respeitadora de toda e qualquer das aleatórias agendas mediáticas cujos objetos assentam na crua e nua voracidade antropofágica da relação politico-económica. Neste contexto, teremos que separar o trigo do joio, não confundir Espinho com Cartaxo, este ultimo o único transitado em julgamento.
Estava eu afirmando todas estas infalíveis e certeiríssimas considerações enunciando as condições necessárias mas nunca suficientes para a composição dos governos quando surge a notícia da Jamila Madeira. O que nos leva a considerar que estas considerações e exigências existem há muito nas regiões autónomas pois que das ilhas não surgem quaisquer casos que nos levantem quaisquer dúvidas. A não ser a da Jamila.